Entraram.
A Procuradora do MP de ténis! Eu ainda sou uma "mecinha" um bocado à antiga nestas coisas, acho que "em Roma, sê romano", acho que cada contexto tem a sua roupagem, e que em cada cenário os personagens devem respeitar o respetivo figurino! (aqui, influências de uma atriz, amadora de formação, expert na vida) Por isso, beca + ténis é... como hei-de dizer?... "Feio"?!..(além de inadequado, 'mal-educado', enfim...)
Bem, então entraram as duas! - a dita do pé desportivo numa sala de audiências, e a Juíza (que a tendência subserviente portuguesa apelida muitas vezes de "Meretíssima" - eu nem por uma só vez consegui pronunciá-lo, em já 20 anos que levo 'de casa', ou seja, de tribunais, leia-se), na sua passada metida a soberana, sem sequer dar cavaco a nenhum dos desgraçados que se encontravam na sala (eu incluída!) sobre o seu mega e vergonhoso atraso.
Pois, espera lá!!... - entraram as duas juntas, pela mesma porta, oriundas de gabinetes vizinhos (podiam deixar-se de hipocrisias e pô-los de uma vez no mesmo gabinete, poupava-se espaço, o gabinete esvaziado iria dar sempre jeito para tantas finalidades possíveis!), com 'aquela cumplicidade', ui, 'aquela cumplicidade', que só quem exerce sabe exatamente do que falo! - nos olhares, nos risinhos baixinhos, nos comentários trocados que 'a gente cá em baixo' bem tenta descortinar, não vá ressaltar dali uma palavra preciosa, uma informação de ouro que salve o nosso defendido, mas não, são perito(a)s na arte da surdina, até deveria ser patenteado este som específico: o "bichanar conspirativo Juízes/ Procuradores"!
Pois, espera lá outra vez!!... - 'a gente cá em baixo', não é?! - mas por que raio é que os dois corvos conspirativos se encontram num palanque, estrategicamente ao fundo da sala, à frente, em cima... resumindo, a gritar a mensagem de: "quem manda aqui somos nós!! qual "partes" processuais, qual quê, qual "equidade" fofinha, blá, blá, que parece que uma coisa chamada "lei" diz que temos de respeitar, ná, nós somos os chefes, e os advogados e "os outros todos" nossos subalternos, que nos devem prestar vassalagem!!"
E, atenção, porque é que os dois corvos se encontram lado a lado, ao mesmo nível, no 'palanque', se o do MP é tão "sujeito processual" como os advogados?!!
PORQUÊ?!!
Eu respondo: porque ainda vivemos, em Portugal, numa sociedade e com uma mentalidade muito provincianas, com resquícios que persistem no adn do português típico das vassalagens medievais, dos maniqueísmos radicais judaico-cristãos, como que uma caixa negra com a etiqueta «Anacronismos», que teima em não sair do núcleo celular!!
Mas muito, muito mais grave ainda, é a promiscuidade, que já referi, entre quem supostamente só deveria representar os legais e legítimos interesses do Estado, e quem supostamente deveria ser um mediador humilde e com alto sentido de Justiça, para assim tão bem saber decidir.
Ao invés, temos na realidade do ordenamento jurídico português um autêntico "advogado de acusação" - mais valia assumirem-no de uma vez, e passarmos a ser como os americanos neste aspeto! -, e um "chefão" déspota!!
Isto para não falar do machismo que persiste, perpetrado muitas vezes ainda mais pelos nossos pares!! Se for o "sôdôtôr" homem, sobretudo o que surge com todo um ar de "venho de um ganda escritório!", os corvos respeitam-nos anos-luz mais - e até algumas corvas podem chegar ao estado de algum derretimento - do que à "a advogada", portanto, a "mulher advogada". Se for jovem, então, tadinha, até pelos funcionários judiciais é tantas vezes snobada.
E por acaso foi só neste 'estado' que eu acabei por exercer, até agora!...
Ah pois, é verdade, existe ainda esta figura não raro sinistra do "funcionário judicial", não raro com uma cara e uma atitude de mártir incompetente e frustrado (é claro que as exceções confirmam a regra, como de igual modo sucede com os juízes e os magistrados do MP).
Os funcionários judiciais cometem o mesmo ridículo, que dá dó, com os corvos, que as funcionárias das clínicas e hospitais em relação aos médicos: comportarem-se com uma atitude como se fossem os segundos a pagarem-lhes o ordenado!!...
E do que resulta daqui?!!... - mais doses maciças de vassalagem e subserviência, a estes oferecidas de bandeja!
É por estas e tantas, tantas outras, que me encontro em processo de abandono da advocacia. Já fui feliz nesse mundo - até porque também vivi experiências muito interessantes, modéstia à parte muitas vitórias, e é verdade que também aconteceu lidar com bons profissionais -, mas era mais miúda, estava mais focada noutros aspetos, e embora nunca tenha concordado com nada do que aqui explanei, achava que 'ia resistir', que os restantes aspetos da praxis compensavam. Não. Nada compensa quando temos de trabalhar num meio ainda tão atrasado e lento, quando somos alvo de discriminação e temos de acatar o "poder pelo poder"!
Tudo isto com tantas leis, sempre a saírem novas o tempo todo, e que até são, normalmente, tão sensatas e democráticas no seu conteúdo!... Mas que são tanto acontece serem mais letra-morta do que qualquer outra coisa!!...
Por isso, de alma lavada e com um alívio incomensurável tomei esta decisão, e largo a advocacia exata e tão ironicamente pelo mesmo valor moral com que nela entrei:
a JUSTIÇA!

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