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A senhora da boina e do coração ferido





Um dia destes, encontrava-me a tomar o pequeno-almoço numa cafetaria de um hospital, e a três ou quatro mesas que distavam de mim reparei numa senhora de boina, pareceu-me na casa dos 70 anos, pelo menos, que fazia o mesmo. Estava sozinha, como eu, mas no seu caso também me pareceu estar "só"!... (uma incomensurável diferença)

Como muitas vezes acontece com estas senhoras, aconteceu rápida e facilmente forjar-se uma conversa  com outra pessoa, da mesa ao lado da sua, mas ao contrário do que sucede nesses momentos, a senhora não sobrecarregou o seu interlocutor com a bagagem nostálgica e depressiva do seu discurso, não se impôs sob nenhuma forma, apesar de, curiosamente, ter até falado durante algum tempo, e ter contado uma história, à qual também eu acedi, por ter conseguido ouvir.

E o tema da sua história foi só um: o seu marido, já falecido.

Que comovente aquele Amor, aquela admiração que por ele nutria, que tributo de respeito lhe prestou ela, de forma sincera, durante aquele pedaço de tempo!...

Que era muito inteligente e culto, que se tinham conhecido no estrangeiro, com todo o historial e forma de comunicar que de si emanava a transparecer terem sido um casal de intelectuais, cheios de Mundo, livros e experiências.


Acho que ela nem reparou em mim, mas eu não me importava se ela percebesse que eu seguia a sua história assumidamente, olhando-a nos olhos (não é muito frequente fazê-lo com desconhecidos) e absorvendo o exemplo que transmitia.

Ela estava triste, mas sem ser uma viúva 'carpideira' e decadente, ela mantinha-se digna e serena, obviamente fazendo cair no ridículo as "viúvas alegres".

O Destino havia levado o seu companheiro de vida há não muito tempo atrás, e denotava-se ainda como que alguma estupefação por aquele cancro nos pulmões, silencioso e fulminante.

Depois, pediu licença, voltou-se de novo para a frente na sua mesa e começou a tentar comer alguma coisa, com notório fastio e algum desalento.

Eu e o senhor que a ouvira em tal assentimos e voltámos ao nosso pequeno-almoço e à nossa vida, mantendo o silêncio que nunca tínhamos interrompido, o silêncio que se presta a quem sabe o que fala, e o faz com o coração.


Caiu-me uma lágrima, que escorreu para a minha alma e se transformou numa pérola de homenagem às mulheres que amam de verdade.

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